
"Quanto riso! Oh, quanta alegria! Mais de mil palhaços no salão. Arlequim está chorando pelo amor da Colombina no meio da multidão..."
A cidade estava em festa. Outro ano, outra vez chegara aquele momento onde o coração dos moradores não se aguenta no peito de tanto bater acelerado. Cada habitante dali, dos pequeninos aos mais antigos, esperam tão ansiosamente por este momento que, dois meses antes, as músicas já estão na cabeça, os passinhos e a fantasia feitos. As ruas se encheram de confete e serpentina. O vovô saiu de braços dados com a vovó, chapéu na cabeça e sapato bem lustrado, com um sorriso de orelha a orelha, como se fosse a primeira vez, como se voltasse a ser menino. Foram para a pracinha ver, no coreto, a bandinha da velha-guarda tocar marchinhas de carnaval. As marchinhas daquelas bem antigas, da época de ouro do rádio. Apesar disso, a juventude toda à volta cantando e dançando como se também tivesse vivido tudo aquilo. Alguns se emocionam, cantam, dançam, riem e choram. Todo ano, naquela época, é inevitável lembrar-se de um por um. Cada carnaval passado, cada ano, cada festa, cada romance, cada coração partido, cada morador que ali festejava deixar de existir, deixar apenas historias e memórias para os velhos contarem aos novos com a esperança de que assim, a tradição e a recordação de tudo ali nunca se apague com o tempo. Quem ali não sabe, nunca ouviu falar, dos contos de cada lugar, dos moradores de cada casa, das famílias e seus patrimônios, seus legados, suas heranças. É o povo que vive, mesmo depois de morto. É a historia que nunca tem fim. É a lembrança que nunca, nunca se apaga, de cada grão plantado por cada cidadão daquela pequena cidade que de cultura e de historia se enriquece tanto que a tradição sobrevive aos duros dias de hoje. E é bem nessa exata época do ano, no carnaval, que as almas ancestrais para ali voltam, pra pular de novo, pra cantar de novo, pra sentir tamanha energia de um lugar alegre onde toda a tristeza finda ao se ouvir a primeira nota.
"... Vou beijar-te agora, não me leve a mal, hoje é carnaval"
2 comentários:
Nossa Claudinha, eu agora me vi de novo criança indo às matinês de carnaval, lembrei das fantasias aproveitadas da Cláudia e pacientemente consertadas pela mãezinha...lembrei da chegada da adolescência, dos primeiros bailes noturnos,as primeiras paqueras e o coração saindo pela boca de tanta emoção...que saudade daqueles tempos que agora, tão bem você me fez relembrar!!! Até parece que você também viveu naquela época...
Beijão,
Tia Célia
" Mas é carnaval, amanha tudo volta ao normal.." (Chico Buarque)
Escrevendo muitíssimo bem, linda! Parabéns!
E to orgulhosa de você! :)
Beijo
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