Ela o olhava com um olhar vadio, pretensioso, estimulante, até um pouco arrogante. E ele, se explodia na imagem dela, vangloriava, revirava os olhos, a venerava. Ela apenas o sorria, ria, enquanto ele a beijava o corpo, se saciava, enlouquecia. Ela só se divertia, se satisfazia com a ideia de fazê-lo delirar e pedir mais. Não com um gozo barato, um gozo qualquer, mas um gozo esperado, espremido, estremecido, inesquecível.
Sabia que tinha esse poder, de causar estrago. E sabia também que o poder não lhe tinha sido dado por ninguém. Era somente dela, dela para ela. E sabendo assim, fazia com que o tal poder se irradiasse por todos os cantos, através de todos os olhos que a seguiam e todas as bocas que a queriam, e não eram poucas.
As pessoas desejavam. Homens e mulheres. Talvez não soubessem exatamente o que ou o porquê, mas desejavam muito, como algo impossível, intocável e imperativo. Mal sabiam que se apaixonavam apenas por uma imagem construída, e construída mesmo por ela. Os outros, só acolhiam a ideia e a sustentavam.
Parece, nunca havia se apaixonado. A preocupação era tanta em ser sempre reluzente e desejável, que se envolver com alguém não era sustentável. Não era, de forma alguma, atitude de alguém tão vangloriado como ela. Se fortalecia em fazer sofrer, fazer com que se apegassem e ver que a imploravam no final. Isso sim era seu gozo.
Mas a vida, como sempre, traz o seu punhal. Não deixaria barato à bela insolente. Esbarrou-se com uma moça. Com um olhar igualmente penetrante. Mas um penetrante não apenas construído. A moça a penetrava com os olhos, verdes, que a olhavam parecia que na alma, sem precisar sustentar a imagem a mais ninguém.
Permitia-se sim, sempre, qualquer tipo de aventura. Respeitava sua libido. Ah! Isso sim ela respeitava! E assim, confusa, achou que poderia fazer da moça mais um brinquedo imoral que acalentava sua vaidade.
Porém, a moça, mais vivida, já sabia, já conhecia, já lidara com mulheres desse tipo, que se escondem atrás da maquiagem, do sorriso e do gemido, e não teve grandes problemas para desvendá-la.
"Escuta, não se esconda mais de mim! Não se esconda mais de si! Ache o elo do sentir, mas não o sentir provisório, ache o elo do perceber. Perceba-se, mulher! Submeta-se! Aqueça-se! Arda, delire, revire, descubra! E quando encontrar-se, me procure. Agora, não és para mim."
Vestindo sua roupa, deixando como lembrança de seus olhos verdes e sua boca macia, apenas um beijo, um olhar gentil e tenebroso, de quem veio ali com uma missão, deixou a mulher, agora de olhos arregalados e batom vermelho borrado, com um pedaço de seu próprio coração, cortado, em suas próprias mãos, como jamais sentira antes. E conhecera assim, como lição, a dor da solidão. Morreu ali, de susto, amor e desilusão.
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3 comentários:
MUITO bom! :)
MESMO!
descobri aonde que posta a mensagem! hauahihahai
Fralda, muito muito bom.. ótimas descrições, ótimas ideias!
Bjo da prima mais massa!
Seus textos estão cada dia melhores. Não sabia que tinha uma filha poetisa.
Bjs
Mãe
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