sábado, 18 de outubro de 2014

Sobre o "MUNDO GAY", heterossexuais e a minha visão que ninguém perguntou...

Para ler escutando:



Dia desses estava assistindo a um canal no Youtube chamado "Pergunte às Bee". Os vídeos deles, muito cômicos por sinal, resumem-se a um viado e uma sapatão comentando dúvidas e corriqueirices do tal "mundo gay". Adorei, até me deparar com um que pegou no meu calo.

Esse tal vídeo discutia a temática: pessoas homossexuais que pegam/ficam afim/se apaixonam/se envolvem/se encantam por pessoas heterossexuais. Em suma, o vídeo dizia o que sempre escuto por aí... basicamente: "meu deus, que cilada! Que vacilo! Que horror! Que medo! Sai dessa agora e vai procurar alguém que goste da mesma fruta que vc!".

Semanas antes tive uma mine crise (sempre muito bem amparada pela minha amiga-cara-metade, Curu), sobre o pq cargas d'agua eu tenho essa mania chata e muito trabalhosa de sempre olhar pra minas HTs. Para né? Toda gay sabe que a pior cilada que vc pode se meter na vida é querer uma hétero, pq, bom, nem precisa explicar, né? Mas já explicando... A MINA GOSTA DE PIROCA, PORRA. E enfim, esse é um fato incontestável, não há o que se fazer a respeito, senta e chora.

A dica das bees do vídeo é válida, real e completamente coerente, sem dúvida. Maaaaaas, óbvio, as coisas não funcionam bem assim, né gente? Ser humano não é robozinho. Onde é que tava escrito naquele contrato que vc assina quando sai do armário que "você, ó lésbica, só olharás e se encantarás por outras lésbicas"? Eu não li isso em lugar nenhum... vc leu? Não tava nas letrinhas miúdos, juro!

Sendo eu, então, essa pessoa de dedo podre e deveras muito azarada nas escolhas de paquera da noite, pensei cá com meus botões: O problema ta comigo, óbvio! Eu preciso frequentar mais 'O MUNDO GAY'. Ir pra mais baladas gays, andar com mais pessoas gays, fazer mais programas gays e parar com essa constante na minha vida que é ficar (sim, ficar, pq além de olhar apenas, eu acabo beijando essas minas) com garotas HTs.

Depois de ouvir alguns conselhos das bichas (e dos héteros também), assumi que o problema era mesmo esse e, decidida, liguei pra minha bicha amiga: "Amor, se arruma que hoje a gente vai pra balada GAY! UHUUUL!". Capivara (apelido carinhoso), prontamente entendeu o meu recado e saímos pra baladis dar uma olhado no mercado de "pessoas que você pode pegar pq gostam da mesma coisa que vc".

Eis que, claro, as coisas nessa vida não são mesmo fáceis, não é Giovana? Em uma baladinha fervente, cheia de sapatões e bibas, eu consigo dar em cima do que talvez fosse a ÚNICA menina HETEROSSEXUAL DA FESTA! SIM, PASMEM VOCÊS! Fui lá dar em cima de uma menina que nunca sequer tinha experimentado beijar outra mulher na vida (até aquela noite, diga-se de passagem). Não saí da tal festinha gay no zero a zero, mas saí bastante frustrada com o que parecia ser o meu karma. 

Decidi persistir na coisa e retomar as amizades do "mundo gay" pra ver se a crise passava. Fui então dar uma saidinha com umas conhecidas do babado. Saímos pra lanchar e, papo vai, papo vem, pensei: Nossa! Era disso que eu tava com saudade! Sentar numa mesa com sapatões e conversar sobre temas em comum! Falar de mulher, das paixonites, das pegações, das gatinhas, das desilusões, enfim, sobre tudo que se fala também no “mundo hétero", só que sem precisar ouvir de ninguém o famoso "como é que vocês transam?".

Depois de alguns minutos, eu já me sentindo confortável com o papo e os relatos em comum, achando que teria, enfim, achado a solução para os meus problemas, começo a perceber que algo não cheirava bem no reino da sapataiada.

Aquelas garotas, todas lésbicas como eu, começaram a soltar frases de gosto meio duvidoso. Opiniões bastante machistas e regadas a conservadorismo. A essa altura do campeonato eu começava a me perguntar: "Deux, quando foi que essas racha ficaram tão preconceituosas?!?!" 

"Pq fulaninha é uma piraaanha! Vc viu o jeito que ela se veste? Vagabunda!"
"AFFF, essas meninas que ficam com meninas por pura modinha! É um absurdo! Se você não gosta de mina vai ficar com mina pra que? Isso é só pra se mostrar pra macho! Se auto afirmar".

Meu olho foi arregalando, a boca foi abrindo e eu fui caindo na real. A ilusão do "mundo gay" batera a minha porta e o que eu já sabia há muito tempo se reafirmava: a sexualidade das pessoas é apenas um mero, meríssimo detalhe que as acompanha na vida. Infelizmente, a pessoa ser gay não quer dizer que ela não seja machista, não seja preconceituosa e até mesmo homofóbica. Não quer dizer que ela não seja chata, não quer dizer nada! Apenas que ela pega gente do mesmo sexo. PONTO. Voltei pra casa me sentindo boba e ingênua.

Nunca fui muito fã de boate. Não gosto dessas músicas bate-estaca que tocam na maioria delas. Não curto gente cheia de preconceitos e pudores. Prefiro música nacional e com letra. Gosto de dançar. Prefiro samba e forró. Sou da macumba. Gosto de minas femininas (saias e vestidos são sempre muito bem-vindos aos meus olhos). Voto em partidos que achem importante defender os direitos humanos. Não tomo bebidas quentes. Prefiro cigarros mentolados, gente alegre e receptiva. Esse é o meu mundo. Essa porra de “MUNDO GAY” não existe. O mundo é meu e eu vou atrás de pessoas que comunguem das mesmas ideias e inspirações.

Volto pro samba, mesmo tendo que me desviar de cantadas e puxões pelo braço dos carinhas pelas festas. A mina que me encanta me encanta pela ideia, pela cabeça, pelo jeito, pela dança, não pela orientação sexual. Meu coraçãozinho não é preconceituoso. Gosto de mulher, gosto de gente, de cheiro, de olhar e sorriso. Pega o seu mundo limitado e faça bom proveito.

No meu tem cores variadas, belas danças e muita moça bonita.

Passou a crise.
=)



Um comentário:

Unknown disse...

Texto muito bom, prima! Beijos!