Para ler escutando:
Dia desses estava assistindo a um canal no Youtube chamado
"Pergunte às Bee". Os vídeos deles, muito cômicos por sinal,
resumem-se a um viado e uma sapatão comentando dúvidas e corriqueirices do tal
"mundo gay". Adorei, até me deparar com um que pegou no meu calo.
Esse tal vídeo discutia a temática:
pessoas homossexuais que pegam/ficam afim/se apaixonam/se envolvem/se
encantam por pessoas heterossexuais. Em suma, o vídeo dizia o que sempre escuto
por aí... basicamente: "meu deus, que cilada! Que vacilo! Que horror! Que
medo! Sai dessa agora e vai procurar alguém que goste da mesma fruta que
vc!".
Semanas antes tive uma mine crise (sempre
muito bem amparada pela minha amiga-cara-metade, Curu), sobre o pq cargas
d'agua eu tenho essa mania chata e muito trabalhosa de sempre olhar pra minas
HTs. Para né? Toda gay sabe que a pior cilada que vc pode se meter na vida é
querer uma hétero, pq, bom, nem precisa explicar, né? Mas já explicando... A
MINA GOSTA DE PIROCA, PORRA. E enfim, esse é um fato incontestável, não há o
que se fazer a respeito, senta e chora.
A dica das bees do vídeo é válida, real e
completamente coerente, sem dúvida. Maaaaaas, óbvio, as coisas não
funcionam bem assim, né gente? Ser humano não é robozinho. Onde é que tava
escrito naquele contrato que vc assina quando sai do armário que "você, ó
lésbica, só olharás e se encantarás por outras lésbicas"? Eu não li isso
em lugar nenhum... vc leu? Não tava nas letrinhas miúdos, juro!
Sendo eu, então, essa pessoa de dedo podre
e deveras muito azarada nas escolhas de paquera da noite, pensei cá com meus
botões: O problema ta comigo, óbvio! Eu preciso frequentar mais 'O MUNDO GAY'.
Ir pra mais baladas gays, andar com mais pessoas gays, fazer mais programas
gays e parar com essa constante na minha vida que é ficar (sim, ficar, pq além
de olhar apenas, eu acabo beijando essas minas) com garotas
HTs.
Depois de ouvir alguns conselhos das
bichas (e dos héteros também), assumi que o problema era mesmo esse e, decidida,
liguei pra minha bicha amiga: "Amor, se arruma que hoje a gente vai pra
balada GAY! UHUUUL!". Capivara (apelido carinhoso), prontamente entendeu o
meu recado e saímos pra baladis dar uma olhado no mercado de "pessoas que
você pode pegar pq gostam da mesma coisa que vc".
Eis que, claro, as coisas nessa vida não
são mesmo fáceis, não é Giovana? Em uma baladinha fervente, cheia de sapatões e
bibas, eu consigo dar em cima do que talvez fosse a ÚNICA menina HETEROSSEXUAL
DA FESTA! SIM, PASMEM VOCÊS! Fui lá dar em cima de uma menina que nunca sequer
tinha experimentado beijar outra mulher na vida (até aquela noite, diga-se de
passagem). Não saí da tal festinha gay no zero a zero, mas saí bastante
frustrada com o que parecia ser o meu karma.
Decidi persistir na coisa e retomar as
amizades do "mundo gay" pra ver se a crise passava. Fui então dar uma
saidinha com umas conhecidas do babado. Saímos pra lanchar e, papo vai, papo
vem, pensei: Nossa! Era disso que eu tava com saudade! Sentar numa mesa com
sapatões e conversar sobre temas em comum! Falar de mulher, das paixonites, das
pegações, das gatinhas, das desilusões, enfim, sobre tudo que se fala também no
“mundo hétero", só que sem precisar ouvir de ninguém o famoso "como é
que vocês transam?".
Depois de alguns minutos, eu já me
sentindo confortável com o papo e os relatos em comum, achando que teria,
enfim, achado a solução para os meus problemas, começo a perceber que algo não
cheirava bem no reino da sapataiada.
Aquelas garotas, todas lésbicas como eu, começaram a soltar frases
de gosto meio duvidoso. Opiniões bastante machistas e regadas a
conservadorismo. A essa altura do campeonato eu começava a me perguntar: "Deux,
quando foi que essas racha ficaram tão preconceituosas?!?!"
"Pq fulaninha é uma piraaanha! Vc viu
o jeito que ela se veste? Vagabunda!"
"AFFF, essas meninas que ficam com
meninas por pura modinha! É um absurdo! Se você não gosta de mina vai ficar com
mina pra que? Isso é só pra se mostrar pra macho! Se auto afirmar".
Meu olho foi arregalando, a boca foi
abrindo e eu fui caindo na real. A ilusão do "mundo gay" batera a
minha porta e o que eu já sabia há muito tempo se reafirmava: a sexualidade das
pessoas é apenas um mero, meríssimo detalhe que as acompanha na vida.
Infelizmente, a pessoa ser gay não quer dizer que ela não seja machista, não
seja preconceituosa e até mesmo homofóbica. Não quer dizer que ela não seja
chata, não quer dizer nada! Apenas que ela pega gente do mesmo sexo. PONTO. Voltei
pra casa me sentindo boba e ingênua.
Nunca fui muito fã de boate. Não gosto dessas músicas bate-estaca
que tocam na maioria delas. Não curto gente cheia de preconceitos e pudores. Prefiro
música nacional e com letra. Gosto de dançar. Prefiro samba e forró. Sou da
macumba. Gosto de minas femininas (saias e vestidos são sempre muito bem-vindos
aos meus olhos). Voto em partidos que achem importante defender os direitos
humanos. Não tomo bebidas quentes. Prefiro cigarros mentolados, gente alegre e
receptiva. Esse é o meu mundo. Essa porra de “MUNDO GAY” não existe. O mundo é
meu e eu vou atrás de pessoas que comunguem das mesmas ideias e inspirações.
Volto pro samba, mesmo tendo que me desviar de cantadas e puxões
pelo braço dos carinhas pelas festas. A mina que me encanta me encanta pela
ideia, pela cabeça, pelo jeito, pela dança, não pela orientação sexual. Meu
coraçãozinho não é preconceituoso. Gosto de mulher, gosto de gente, de cheiro,
de olhar e sorriso. Pega o seu mundo limitado e faça bom proveito.
No meu tem cores variadas, belas danças e muita moça bonita.
Passou a crise.
=)
Um comentário:
Texto muito bom, prima! Beijos!
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